sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Sopro de Vultos...




“NÃO!”, e o vento corta a carne do rosto.
                  Transpirando...
No banheiro ele acorda, o chão está frio, pode congelar até o espírito.   O espelho está sempre ali e toda manhã ele é olhado, as barbas ralas por fazer pressentem a urdidura perversa da lâmina. Os pelos aflitos e excitados. Medonho é o aparelho de barbear que está em posição vertical, pronto!
     D-E-S-T-R-U-T-I-V-I-D-A-D-E! Esse é o feito pretendido.
     A navalha irá exalar aquele cheiro de energia carnelétrica.
A urina mais ácida quer sair de corpo, está quente, está com pressa.
     No além-banheiro, pela janela e somente pela janela o sol nasce com ares medievais e rasga rostos, inflama as caras. Álvaro observa os raios do Sol, se deixa levar através da fresta, pela qual o vento convida a um passeio, os raios de sol não parecem queimar.
Álvaro transmuta-se em vulto, chega a um balcão de bar, sua mão bate e pede: “Um café expresso e uma dose de alcatrão! ” . 
     Folheia o  jornal do dia sem atenção, os relógios tortos de paredes estão espalhados pelo bar e há uma janela do outro lado.
Apenas a janela e talvez umas mesas.
      É por ela que Álvaro solfeja sua imaginação, sai transitando seus olhos castanhos e observa vultos.
Os olhos castanhos e a beleza vão além, o que pensam os olhos castanhos?
      Barbas por fazer, olhos castanhos... pés ainda descalços, urina quente e apressada...
                  “Oh! Náuseas de olhos castanhos! “, cantam as fêmeas, também, de pesos nos anelares.
     Pela janela, dois vultos entram: Ele, futuro patriarca da moral de mãos dadas a ela, tem a cara rasgada pelo vento e quer um café forte, senta, permanece sentado, calçado; Ela, além do café e das torradas, quer uma barba de penugem rala e olha ( olhar de tempestade), deseja o jornal folheado.
      Álvaro de vulto solar folheia o jornal com menos atenção e alcança o corredor com os olhos: “Besta fera de vestido. Ah! Eu sei... não é de hoje, mas ela se veste bem, tapa suas concupiscências
 e vai ao banheiro; fantasiada de uma verdade inventada, contém um desejo insustentável e ineficaz. As costas dela não aguentam o peso do pecado e seu anelar não sente mais o peso do anel” 
     A penugem rala de Álvaro capta a esfera tempestuosa e carnalétrica desse vulto bem vestido. Enlaces de pelos, vestidos e voltagens se prendem à cor castanho.
     E no espelho, o chão frio sustenta pés descalços e urina quente; enquanto a leve imagem de pelos continua.
O rosto é lavado!
A janela fecha, desperta um homem e as navalhas perversas do vento adormecem.

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